APMP 71 ANOS: Conheça o associado centenário
Nesta terça-feira, 06 de setembro de 2022, dia em que a Associação Paranaense do Ministério Público (APMP) completa 71 anos, nada mais justo do que homenagear o promotor centenário, o associado Jacy Carvalho de Mendonça, promotor de Justiça aposentado, que completará 103 anos no próximo mês, em outubro de 2022.
Jacy reside em Londrina, cidade na qual é Cidadão Honorário desde 2015. Conquistou diversos reconhecimentos na carreira. O maior desafio é trazer, em alguns caracteres, a história de vida do associado, que tem muitos ensinamentos e lembra a importância das coisas mais simples da vida, como ver a sua família feliz e realizada.
Jacy nasceu no interior paulista e começou a trabalhar muito cedo, aos 11 anos de idade, como auxiliar de escritório de advocacia, era “Office boy”. Foi casado com Sebastiana (Tana) Agudo Mendonça por 72 anos, tempo que foi interrompido, infelizmente, com o falecimento de sua esposa, aos 84 anos, em 2020, devido à COVID-19. Mas essa linda história de amor rendeu frutos: 2 filhos, Marilda Agudo Mendonça Teixeira de Siqueira, pesquisadora e chefe do Laboratório de Vírus Respiratório e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro; e Marcelo Agudo Carvalho de Mendonça, médico ginecologista obstetra, ex-diretor clínico do Hospital Zona Sul de Londrina e ex-superintendente da Caixa de Assistência, Aposentadoria e Pensões dos Servidores Municipais de Londrina (Caapsml); 6 netos, que atuam na área de Direito; e 4 bisnetos.
Carreira
Alguns acontecimentos, durante a sua trajetória, o levaram a se interessar pela área de Direito. Como trabalhou, durante seis anos em um escritório de advogados, conheceu mais a fundo a área da Justiça Federal, tema que fez com que se interessasse, assim, pelo Ministério Público. Por isso optou em seguir a carreira de promotor de Justiça.
Aos 17 anos mudou-se para a capital de São Paulo em busca de melhores opções de estudos. Trabalhou como revisor de jornal, ao mesmo tempo em que estudava. Em razão dessa atividade exercida, obteve carteira de jornalista profissional. Seu primeiro concurso público foi para coletor federal, função que exerceu enquanto concluía o ensino médio no Colégio Estadual de Catanduva (SP).
Já morando no Rio de Janeiro, Jacy fez faculdade de Ciências Contábeis. Entretanto, aquele sonho da adolescência ainda existia, então ingressou na Faculdade Fluminense, em Niterói-RJ. O sonho chegava cada vez mais perto, antes de finalizar o curso, pediu transferência para a Universidade Federal do Paraná (UFPR). Formou-se em Direito em 1951 e, dois anos depois, prestou concurso público para o cargo de promotor de Justiça do Ministério Público do Paraná (MPPR). Jacy assumiu o cargo na cidade de Apucarana-PR. Desde então, atuou nas Comarcas de Malé, Bela Vista do Paraíso, Assaí e Cambé. Foi promotor de Justiça no MPPR por 68 anos.
O associado conta que atuar como promotor foi edificante: "À medida que ia atuando no Ministério Público, eu me vi obrigado a estar sempre fazendo uma leitura de diversos assuntos, para estar sempre atualizado para exercer bem a minha função. Então sempre busquei praticar bem a minha função e também ser atualizado para atuação no Ministério Público”.
Ao relembrar de sua carreira e dos momentos desafiadores que passou, Jacy contou um fato marcante: o associado havia sofrido uma tentativa de assassinato por um réu que foi condenado: “Em exercício da minha função, em virtude de atuar em um processo no qual um réu foi condenado, este réu veio para o Fórum, em Bela Vista-PR, querendo matar o Promotor e o Juiz. O Juiz não estava no momento, pois tinha viajado. E eu estava lá e o réu realizou um atentado contra a minha vida. Lutei com ele, ele deu um tiro que pegou no teto do edifício. Outro tiro também, mas não me atingiu. Depois disso, foi preso e sua condenação aumentada por conta dessa ação”. Jacy falou sobre outro caso também (sobre o mesmo réu): “Estava com minha esposa em SP, em um restaurante, chegou um garçom e ofereceu um cardápio. Quando vi, era o mesmo assassino, o réu. O réu contou que estava trabalhando honestamente em São Paulo. Então fui embora do restaurante, ele poderia colocar veneno na comida”.
Ser promotor foi um sonho realizado para Jacy e, a sua filha, Marilda Agudo Mendonça Teixeira de Siqueira, contou como era vivenciar essa atuação dentro de casa: “Ele sempre gostou muito da profissão dele, ele sempre achou muito legal ser Promotor, valorizou sempre a carreira de advogado. Então é bonito ter um pai que trabalha naquilo que gosta e que dá importância para a carreira e para a profissão que ele abraçou. Isso é uma coisa muito boa da gente ver e ter essa percepção na vida e que a gente leva para a vida inteira. Tenho que trabalhar em uma coisa, de preferência, que eu goste, que eu acredito, que eu acho que estou sendo útil. Isso que eu via no meu pai, claramente, ele demonstrando essas questões”.
Aposentadoria
Aposentado do MPPR, Jacy mora atualmente em Londrina e conta que não parou com as suas atividades: “Tive atividade agrícola e agropecuária após a aposentadoria. O livro ‘O Poder da Vontade’ me ajudou muito e me deu uma alavanca para o resto da vida. Porque nos ensina a deixar os obstáculos de lado, não ficar pensando nisso, e sempre pensar que irá vencer. Sempre com pensamento otimista, foi o que tive a vida inteira”.
Aos colegas que se aposentaram, Jacy aconselha: “Procure desenvolver alguma ação benéfica, que ajude creches ou hospitais, por exemplo. Portanto, não fique parado, sempre busque fazer algo em benefício de seus semelhantes. Sempre tenha algum objetivo de vida, não fique parado. Esse é o segredo da longevidade”.
E aos colegas que ingressaram recentemente no Ministério Público, Jacy comenta: “Diria que para esse colega que haja sempre, no direito, com justiça, imparcialidade. Dessa forma, sempre dormirá tranquilo e saberá que está agindo de forma justa com a população, sempre com critérios justos e comprimindo a sua função de Promotor de Justiça”.
Longevidade
Jacy é um exemplo de simplicidade para todos nós, ele nos mostra que não é preciso muito para alcançar a longevidade e temos a sorte dele ter nos contado qual é o grande segredo para isso: “Me sinto muito realizado, pelo seguinte: porque, durante a minha juventude, a minha vida, trabalhei bastante, economizei, pensando sempre no futuro, pois queria ter um futuro saudável e compensador pela vida toda. E agora, aos 102 anos, me sinto realizado, vejo minha família bem, todos bem encaminhados, meus filhos com curso superior e trabalhando. Não devo nada a ninguém. Só preciso do necessário para sobreviver, não sou muito ambicioso, não tenho grandes planos. Já viajei muitas vezes, mas hoje tenho mais interesse em ficar em casa e ver o progresso dos meus filhos. Tenho graças a Deus, calma, na minha vida”.
Marilda Siqueira dividiu com a APMP sobre como é ser filha deste homem exemplar: “Tem sido uma experiência maravilhosa na minha vida. Agradeço a Deus, a vida, por ter tido os pais que eu tive. Naturalmente que eles não foram pessoas perfeitas, assim como nenhum de nós somos, mas foram pessoas que se esforçaram demais para que eu e o meu irmão tivéssemos qualidade de vida e oportunidades na vida. A grande preocupação do meu pai era que tivéssemos educação e cultura, que ele sempre disse que isso é a base da vida. Então ele sempre se esforçou muito para demonstrar a importância disso na vida das pessoas. A própria vida dele foi um exemplo disso”.
Educação
O promotor de Justiça aposentado também lembrou como é importante a valorização da educação dentro de casa e também de passar esse valor para toda a família, que vai levar esse ensinamento por gerações. Jacy comentou que sempre incentivou os filhos a seguirem uma carreira profissional que os fizessem felizes, em primeiro lugar: “Quando meus filhos foram realizar o ensino superior, nunca falei para os meus filhos: ‘siga isso ou aquilo’. Sempre falei: “siga o que você gosta de fazer, que acha que vai se dar bem. Siga isso, não pense em mais nada”. E eles, os 04 netos, por muita coincidência, seguiram carreira jurídica.
A filha do associado confirma que o incentivo à cultura e à educação sempre esteve presente na família: “Meu pai sempre incentivou muito a estudar. Quando eu terminei a faculdade, fiz Farmácia e Bioquímica em Londrina, tinha até emprego garantido em um laboratório de análises clínicas, mas falei que queria fazer mais, queria fazer uma pós-graduação. E meus pais me apoiaram. Eu era muito nova, com 21 anos. Minha mãe ficou preocupada de eu ir para o Rio de Janeiro. Mas, mesmo assim, eles deram a maior força, pois essa questão de se aperfeiçoar na vida sempre foi muito importante para eles. E quando defendi minha tese de mestrado e doutorado eles vieram para o RJ para assistir e ficaram emocionados, agradeceram os meus orientadores, foi muito bacana ver a preocupação deles com a formação cultural da gente”. Ela complementou falando das suas lembranças com o irmão em relação a esse estímulo para a formação: “Meus pais sempre se preocuparam para que eu e meu irmão tivéssemos acesso a todas essas questões importantes de formação pessoal e profissional”.
COVID-19
A pandemia de COVID-19 trouxe muitas perdas de entes queridos para milhares de famílias no Brasil e a esposa do associado, Sebastiana, faleceu em 2020, devido à COVID-19. Esse fato causou muita preocupação em toda a família e Marilda contou sobre essa fase: “No ano de 2020, logo depois das eleições, a minha mãe teve COVID e faleceu. Foi um momento muito difícil para nós, porque, apesar de ela estar com 84 anos, a gente achava que não era a hora ainda, a gente nunca acha que é a hora. Com isso, ficamos muito preocupados com o meu pai, pois minha mãe e meu pai tinham 72 anos de casados. Então é muito tempo juntos e perder a sua companheira. Mas ele conseguiu continuar com motivações na vida. Eu falo com ele todos os dias à noite, pois acho a noite um momento mais difícil. Durante o dia a vida passa mais rápido. Ele é bem motivado, é muito bom ver isso no meu pai, que ele acredita na vida e que ele acredita que vale a pena viver e dar sentido para as coisas”.
Cidadão exemplar
Ter quase 103 anos não impede Jacy de exercer seu papel como cidadão. Em 2020, o associado fez questão de votar nas eleições municipais, em Londrina. Já no ano de 2021, Jacy esteve em Curitiba para votar nas eleições da Ordem dos Advogados - Seção do Paraná (OAB-PR). Ele foi o mais velho entre os eleitores que votaram no pleito da OAB-PR.
Marilda contou uma curiosidade sobre o dia da ida a Londrina, quando seu pai foi votar: “No ano de 2020, eu fui até Londrina, para as eleições, pois meu pai e minha mãe faziam questão de votar todos os anos, não precisavam mais, mas tem eleição e eles vão votar. Quando eu fui lá, no ano passado, o mesário cumprimentou o meu pai e disse: “Dr. Jacy, nossa, que maravilha o Senhor aqui, com 101 anos de idade e votando. Que bom!” Aí o meu pai olhou para o mesário e disse: “Bom meu filho, até logo. Até daqui ‘2 anos!’ Então ele realmente não pensa que tem 101 anos ou que vai morrer logo. Ele sempre fala: Eu não penso na morte, porque não adianta, ela vai vir mesmo. Então não adianta se estressar com isso”.
Com todos esses ensinamentos de vida, a APMP felicita os quase completos 103 anos do associado e agradece por tantos feitos importantes em prol da sociedade paranaense, assim como para a sua família e seus amigos!
Fotos: Acervo pessoal Marilda Agudo Mendonça Teixeira de Siqueira.