As engrenagens do sistema político brasileiro por Bruno Carazza

APMP realiza mais um Café com Letras
24 de junho de 2022 > Assuntos Institucionais, Diretoria, Eventos Culturais

Trinta anos depois do escândalo dos Anões do Orçamento, em que políticos manipulavam emendas parlamentes visando desviarem o dinheiro através de entidades sociais fantasmas ou com a ajuda de empreiteiras, ainda vivemos a volta de grandes esquemas de corrupção. O curioso é que, basicamente a lista de empresas e de políticos envolvidos nos escândalos de corrupção continua a mesma que figurava no esquema conhecido como Anões do Orçamento. Mesmo assim, os crimes de colarinho branco, vem caindo ano a ano, segundo dados de prisão da Polícia Federal. 

Essas informações e a forma como o poder econômico influencia na política brasileira foram apresentadas por meio de dados pelo analista político Bruno Carazza, professor da Fundação Dom Cabral, durante o Café com Letras, realizado pela APMP, na noite de quinta-feira (23). Autor do livro “Dinheiro, Eleições e Poder: as engrenagens do sistema político brasileiro”, (Companhia das Letras, 2018), Carazza, trouxe dados atualizados sobre doações de campanhas eleitorais.  

“Tentamos (no Café com Letras) trazer temas indiretos a nossa atividade e o Bruno consegue mesclar uma série de assuntos que têm relação com o exercício da nossa função. Estamos num ano eleitoral, é muito importante tratarmos sobre esse assunto que, com certeza, trouxe mais subsídios aos colegas que atuam na área eleitoral”, afirmou o presidente da APMP, André Tiago Pasternak Glitz. 

O promotor de Justiça, Felipe Lamarão de Paula Soares, mediador do evento, concorda com a colocação do presidente da APMP. “O tema tratado pelo Bruno é naturalmente instigante. No atual cenário nacional e com a proximidade das eleições, passa a ser fundamental. A conversa teve o grande mérito de tornar palpáveis algumas ideias que temos com base, tão somente, em nossa experiência forense cotidiana”. 

Um dos analistas mais requisitados pelos meios de comunicação sobre financiamento de campanha, Carazza trouxe dados atualizados e evidências sobre o crescimento da influência do dinheiro nas eleições, com o perfil do financiamento eleitoral se concentrando em grandes doadores.  

Embora, não seja tão perceptível, o poder econômico influi em todo o processo. Um dos exemplos é a distribuição desigual dos Fundos Eleitoral e Partidário que desequilibra o jogo eleitoral. “Em 2018, os 413 deputados federais ganharam, em média, 16 vezes mais recursos do que o candidato comum”. Entre as mulheres, quem mais recebeu recursos foram filhas, esposas e ex-mulheres de políticos tradicionais. “Uma candidata negra novata recebeu mais de 20 vezes menos recursos dos fundos partidários e eleitoral do que um deputado federal branco buscando a reeleição em 2018”. 

Em relação as eleições deste ano, Carazza considera que “independentemente de quem seja o próximo presidente da República, muito provavelmente o Centrão será mais forte e mais coeso a partir do ano que vem, dificultando o rompimento dessa estrutura". 

Apesar dos números estarrecedores, o palestrante encerrou sua fala com um tom de otimismo, apontado uma lista de ações que podem contribuir para se combater à corrupção com base em incentivos e instituições. Entre elas, aprimoramento na legislação para tornar as eleições mais baratas, impor limites a proliferação de partidos e repensar as políticas públicas, o estado e sua forma de tributação e concessão de benefícios tributários e avanço no sistema judicial e os prazos prescricionais. “Mais cedo ou mais tarde, a sociedade precisa retomar a pauta do combate à corrupção para romper essa estrutura”. 

 Veja aqui as fotos do evento. 

Assista à palestra on-line.

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