Associada Cibele Resende assume a cadeira nº 1 da Academia de Letras José de Alencar
No final do ano de 2016, a associada Cibele Cristina Freitas de Resende assumiu a cadeira número 1 da Academia de Letras José de Alencar (ALJA), do Paraná, como sócia patronímica.
Após ser sócia efetiva por alguns anos, indicada pela publicação de matérias jurídicas e alguns poemas ainda não compilados, recentemente, a procuradora de Justiça foi escolhida para ocupar, especialmente, a cadeira nº 1, que tem como patrono o escritor José de Alencar, e que foi ocupada antes pelos sócios patronímicos Luiz Silva e Albuquerque e José Wanderlei Resende, seu pai.
Cibele aponta a importância de assumir a posição. “É para mim um grande presente de meus colegas e imensa honra e responsabilidade, que encaro motivada pelo bem dos que confiaram em mim para continuar um trabalho belíssimo que essa agremiação desenvolve nos meios literários junto ao povo paranaense”, afirma a associada.
“Outras razões de redobradas alegrias para mim é o fato de que a presidente atual é a escritora e amiga Dra. Anita Zippin, e que um dos patronos desta Academia de Letras é, nada menos, que Dario Vellozo, bisavô do diletíssimo colega e amigo Procurador de Justiça Alberto Vellozo Machado, que sabemos escritor de múltiplos estilos literários, além de uma grande pessoa humana. Dispensa qualquer apresentação no Ministério Público também, o escritor e colega Procurador de Justiça Rui Pinto, tantas vezes nosso orador, de quem muito me orgulho de ser confreira na ALJA. Sem contar os muitos outros grandes nomes, que não caberia aqui para nominar, das diversas áreas culturais, com idoneidade literária, artística ou científica, que a Academia de Letras José de Alencar congrega”, aponta Cibele.
Agora como sócia patronímica, a associada traça os próximos objetivos. “Meu projeto para 2017 é publicar, in memorian, um livro escrito por meu pai, recentemente falecido, “A Saga e a Toga”, além de alguns poemas de sua e minha autoria, ainda inéditos”, objetiva.
Obra marcante
Como um trabalho que lhe marcou, a associada destaca o texto “Via crucis” (Leia abaixo). “O via crucis, é um marco de uma experiência muito humana que me foi destinada e que reflete muitas vidas que estão hoje na caminhada que atravessei com meu pai, para que não esqueçamos deles e da nossa vida hoje, e agradeçamos”, diz Cibele.
Via crucis
Via dolorosa
Via de dúvidas, está mesmo acontecendo?
Como crianças voltamos à dependência total e à inocência de quem não pode sobreviver ou se defender sozinhos.
Estamos nas mãos de estranhos que se tornam íntimos, que parecem não ter vida fora dali...
Um lugar de leitos, máquinas, pacientes, que convivem em meio ao frenesi de providências e incertezas...
Lugar de trabalho para alguns, porto de esperança para outros.
Definitivamente, seu lugar não é ali pai, como ninguém vê? Você não combina aí! Você que é feito de poesia, que não é nada apático, que se comunica tão bem com todos! Está nocauteado no meio do salão de estranhos. Você não é o 'Seu José'… É O Wanderlei, o Wander, o meu pai, “papi”.
Fica a impressão de que o mundo saiu da realidade e houve um grande engano, um erro na história, da sua vida, da minha vida. Trocaram... com certeza... alguém se equivocou!
O câncer de novo, o raio repartindo outra vez nossos mesmos corações, quebrando novamente nossas forças, duramente golpeadas.
Quem é que pega o pai dos outros e coloca doente, sem qualquer explicação? Claro que não estou falando de meras suposições científicas e que apesar delas, o que se vê é muita dor na alma, e muitos semelhantes em igual sofrimento.
Quantos são eu não sei, mas se multiplicam à minha volta, nas minhas conversas, nas minhas orações por tantos, e entre tantas pessoas queridas ... de alguém.
Pessoas que estavam ali vivendo e que foram surpreendidas pela interrupção de suas vidas.
Tantas coisas se formam e se criam em torno disso, um mundo inteiro de prédios, máquinas, cursos, empregos, remédios... e coragem! Sim, surge um mundo especializado, que gravita e também depende de todo aquele tumor inesperado, indesejado, inescrutável, que permanece inexorável, quando invade a vida alheia.
Nasce um sistema para combater a injustiça natural.
Via crucis... vivemos novas vidas, pedintes, separados por poucos metros, cortinas, biombos, roupas que não são nossas ...
Visitamos, em horários que não nos pertencem, alguém que nos deu a vida e seus momentos mais iluminados, sempre, a qualquer momento, quando precisávamos.
Falta compreensão de que são nossos, apesar das explicações razoáveis, porque falta ser real para nós, os que aqui, do lado de fora, ficam esperando as regras de cada lugar, depois da porta fechada.
Via crucis, via de dividirmos a cruz, de humildade, de comiseração andando junto com a pequena multidão daqueles que foram exilados da alegria, da alegria inocente que pairava num tempo em que não sabíamos o que era medo. Saudosos de um tempo em que não pensávamos... apenas tínhamos planos e afazeres, que pareciam ser a vida, a simples vida.
Via crucis... quem passa, quem chega, quem fica, quem encontra a saída?
Sobre a Academia de Letras José de Alencar
Fundada em 04 de outubro de 1939, em Curitiba, ainda nomeada Associação de Cultura José de Alencar, a atual Academia de Letras José de Alencar foi criada com o objetivo de congregar intelectuais e trazer-lhes apoio moral, cultural e material, colaborando para o desenvolvimento da literatura, da ciência e das artes plásticas no estado do Paraná.
Hoje participam como membros da Academia fotógrafos, pintores, escritores de obras científicas e literárias, jornalistas, entre outros. Uma rica multidisciplinaridade cultural que fortalece o desenvolver de um povo. A instituição promove os chamados “pic-nicks” culturais periódicos, onde são trocadas ideias, informações, experiências e, principalmente, apoio aos membros que desejam publicar e divulgar suas obras. Com isso, a academia busca intervir no cotidiano da sociedade, levando um pouco da beleza e da experiência dos agremiados para diversos espaços.
“Posso citar alguns projetos que têm sido fruto do trabalho de muitos, para estimular a vida cultural em nosso estado, como as recém-lançadas “Antologias de Bolso”, que são distribuídas nos diversos espaços públicos. Elas levam temas específicos a cada edição, de grande beleza e sensibilidade para a população, como ‘inspiração’, ‘liberdade’, ‘vida’”, explica Cibele.
Atualmente, as reuniões da Academia funcionam no prédio histórico “Palacete dos Leões”, que fica localizado na Avenida João Gualberto - 570, em Curitiba, espaço cedido pelo Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul - BRDE.